quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“Pudera-quisesse”



Sobre a coluna mais alta escutar  a tua voz
Canto  das aves no seu voo
boca do desejo  - fome
palavras em que te deitas -  vive
exercício  inicial do poema em que pernoitas
música  abandonada  ao silêncio  do  coro
por esse vale  lentíssimo de te pensar –
tu
que tacteias  em mim os espaços mais secretos
o deserto que cultivo -  saudade
de mim-em-ti  repartida
nesse romper das horas em que a tinta nos afoga
 poro a poro os sentidos
ah          lentidão da mão onde o mar sobe
nesse  iridescente  sentir  da magnólia
sabor e nervo que a boca inteira procura
lugar despovoado …onde o regresso demora 
dos  gest-(os)-teus
vestido da tua boca com que vestes a minha pele
veias que são  livro                         sismo  dos sentidos
vulcão debruçado e ardente  na ponta dos dedos
cabeça ao redor de nós                 
nessa terra em que somos  vagarosamente
palavras licor a subir pela noite
como face  de Monalisa  

paixão de Hölderlin  &  Goethe
&  derrama-se assim a tua ausência
nessas marítimas paisagens onde as veias  ardem
e teus olhos de  quartzo
nas varandas dos meus olhos
ah         visita-me
enquanto não envelheço

& toma estas palavras cheias de medo
& derrama-te  em mim como um vinho
na tua ausência  maior                   na dor  mais densa

ah       lábios em que te chamo – ouro
em que te faço árvore & rio

que corre no leito de mim
para a foz de nós




Desenho e Poema da Autoria de Maria Andersen


2 comentários:

  1. lugar despovoado onde o regresso demora... demora...
    lugar habitado da saudade dos dias,
    no correr lento e espesso da unidade do tempo.
    crescem pelos cantos as flores do medo,
    medo de passar o tempo pelo corpo mais veloz que o gotejar do tempo de te ter por mim inteiro...
    medo que amarga o doce do desejo.

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  2. “Pudera-quisesse”

    ah “visita-me
    enquanto não envelheço

    & toma estas palavras cheias de medo “
    & derrama-te em mim como um vinho
    na tua ausência maior na dor mais densa

    ah lábios em que te chamo – ouro
    em que te faço árvore & rio

    que corre no leito de mim
    para a foz de nós

    imagem... gravura... vc Maria...“Pudera-quisesse”

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