segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

é de noite que a corporeidade é mais táctil





é de noite meu amor


 é de noite que a vida vem
como um filme antigo ao pensamento
e nos penetra todos os impulsos primordiais
nesse poder inóspito do tempo
onde nascem verdades de tantas bocas

& nós aqui                         minúsculos credos da vida
de olhos impotentes e pasmados nesse crepúsculo das horas
rebanhos de veias que nos aquecem o pensamento
nesse ramo de razões com que defendemos as causas
que tantas vezes nos fecundam a raiva e a comoção





é de noite meu amor
que choramos os silêncios magoados
contra a carne
nesses gemidos marinhos
como se  o teu peito fosse  uma harpa onde eu canto
&  deslizo pela nudez do teu rosto
até sentires na boca o sabor do fruto  que comi

é de noite meu amor
que a luz se faz mais clara  pelo cálice
em que nos extenuamos em gestos
 até exorcizar todas as nossas carências

é de noite meu amor
que tacteamos  por dentro
as distâncias mínimas do abandono
nesse rigor do sol nos recantos  do corpo
porque nos teus braços  sou mais eterna
mais brisa                  mais ventre                 mais música
e tu  meu amor
porque me apeteces  inteiro para escrever corais sobre os teus dedos 
onde se solta o esplendor da manhã
onde  eu procuro o aroma da infância
no denso arvoredo dos teus olhos

é de noite meu amor
que é mais táctil a corporeidade
& mais vibrante o vinho dos mil clamores
pela unidade do ser(mos) espelhos efémeros
& eu amor
que agora me adenso em ti 
pelo espesso lado de dentro das horas
de nós – breve permanência  que plantamos aqui nas palavras
a pulsar verões  nessa nossa omnipresença



desenho e poema de maria andersen

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