sábado, 2 de março de 2013






apetece-me nas mãos o poema e o homem
as palavras são estes contornos em que amadureço
sigo o verbo como concretas linhas do teu corpo
somos o plural de tantos nomes contra os ossos
trémula a carne deste país quebrado na palma das mãos
com estola e círio escoando memória


maria andersen

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

haiku





sombra  benta nós :
bosque limo cachorro
atrás outono


haiku de maria andersen

os pés crescem para ruas

jogo capim com os olhos
enquanto a noite se  deita na voz
onde os pés descalços crescem para ruas
na língua solar  das borboletas


maria andersen

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

durmo no dorso das rosas

 




 
 
 
 
voo parada na distância de todos os princípios
pronuncio bicicletas carregadas de tempo
durmo no dorso das rosas
pego a lucidez aos ombros e trago-a ao poema
onde a teologia é plebe

maria andersen

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

madruga-me a sede







ás vezes madruga-me a sede
subo menina à cama
enquanto a tua voz canta
trago da tua pele sinais
pássaros em gomos declarando sol
acabou o café
o frio regressa ao cair das horas
entardece
as palavras são crepúsculo
à hora em que toca o sino
guardamos o som da água
na homilia do cinema 
o pátio é de pedra
onde a lua nos consola a boca
o mel renasce-me nos poros
onde a grande tarefa é respirar desertos
adornados de usuras onde só tu me sabes
" a noite outrora não tinha céu
o dia não tinha chão"
agora
o amor é o catre das artérias
palpitando no sexo
samba em que me cedo
cravo na terra mordendo cego
instante a gemer entre paredes
aqui - violo no orgasmo a paz
roubo o silêncio das noites
com os olhos abertos para dentro
o alfabeto dos homens na água das mulheres
o limo a contornar a nuca
a cidade no bico dos seios embalsamada
o verão na luxuria dos livros
e o tempo a fio no que dizes
eu
digo-te coisas naturais
tu fazes escapulir peixes em cardumes
na rua  dobrada no vapor da boca
onde eu chego
mesmo quando parto


pintura  e poema maria andersen

quarta-feira, 26 de setembro de 2012



a noite é uma demanda de sombra
uma concha dentro das mãos
como um acidente democrático
ao lado da vigília

a boca - o espanto - a esmeralda
o abismo do pensamento
a criar orientes junto ao teu rosto
onde a manhã "corre como um mendigo
sobre um cais de mármore"

na filigrana da chuva eu danço
com olhos enormes onde o amor é proa
candeia bordada de girassóis   por dentro da carne

uma goiaba - delírio na mudez do verbo
a  voz  - toda nascimentos


pintura e poema de maria andersen