a gruta o fogo as flores de chuva inaugurais
mariposas abraçando o mundo
os olhos
as nossas mãos meninas na minúcia do sonho
goiabas maduras na boca –
abelhas na língua a colher mel
& um mundo em voo ao redor do olhar como andorinhas
que atravessam oceanos & memórias
aí subimos como se fossem baloiços
estrelas nuas & o tempo no jardim de William Blake
o amor & eu
metade ventre metade sopro metade fogo
tu metade coluna metade carne metade céu
& nós sete pétalas - o mundo arfando-nos na pele
índia fronte onde sou maça perto da boca
rua afagando o tempo da matéria
tu torre constelada a sobrepostas vozes quase corpo
assim se penetram os ventos a alma os rios
assim o silêncio é gemido que cresce da terra
exílio azul onde soluçam as sombras pelos sete sóis
geometria de Goethe em cada letra como uma face revelada
& todas as bocas dizem o teu nome
& cada luz desce a prumo no meu corpo onde implodem anjos
única mão de luz talhando os dias
acordei a derramar-me junto à janela
a bicicletar palavras na atlântica luminosidade da flauta
com os goivos a vestirem-me os poros
silêncio de estatuas onde se enrodilham frases inteiras
estamos sentados no tempo
& olhamos por dentro os poemas de Whitman no empedrado das horas
onde o leite da figueira seca & tu dobras-te a cantar manhãs
há tanto tempo que somos 1 numa espécie de sotaque
templos incendiados no amor
no chão on the rock rasgado sem liturgias
à flor da língua do sabre do nome
maria andersen
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