a tarde vai e vem no seu andar antigo
o corpo de terra e cal
demora-se no lento vapor das sombras
& tudo é outra coisa –
o silêncio de que sou feita
os limites fixos a que eu desobedeço
o vomito da ordem ao dobrar a esquina
a corda tensa dos códigos onde se morre de surdez
os vocábulos que se refugiam no poema
os quartos vazios onde as paredes gritam
& nós tão subterrâneos
gememos ladrilhos nas ruas
& de hora em hora somos espelhos quebrados contra o tempo
o sangue é a cor do enigma
das letras pintadas no papel
a felicidade muda entre a incandescência das paredes gastas
somos cansados gnomos do tempo
pedaços minúsculos de gente a esfarrapar-se contra a miséria
tardam-nos os séculos na poesia
a loucura ri do engano
a mão esquece o encontro da outra mão
a boca continua a polir metais caídos ao som de qualquer ideia
tudo se converte noutra coisa
a casa está vazia
& eu continuo criança profunda & perdida
maria andersen
também o poema é «contra o tempo», permite o não-esquecimento, a expressão de dores e vazios que todos sentimos.
ResponderEliminarabraço.