não basta nomear a hora
nem dizer o álibi onde as cidades envelhecem
há tantas horas em que nos une uma nostalgia
e o mesmo exílio nos cabe dentro dos olhos –
já recolhemos pela vida tantos destroços
e nunca antes o amor foi maior
assim nos surpreende o caminho e a boca à mercê do sonho
nunca a vontade foi tão desatinada e urgente
decerto que haverá gente
capaz de supor o fundo deste sentimento
os becos e ruelas por onde andamos
há tanto para argumentar nesse silêncio táctil do cigarro na boca
e eu esta tenacidade de me erguer sobre as dunas de Rimbaud
e fazer delas o teu olhar como o único ritual da vida
estou aqui e olho o mar mais a sul
e percebo que de espelhos pouco sabia
o amor tem esta vertiginosa paciência
tem esta loucura por dentro da carne num lugar quase inacessível
e distintos são os contornos das nossas mãos
os poros no torpor da boca
aqui o tempo nos redime de toda a solidão
e tão poucos são os que se abraçam como nós -
assim ardemos devagar sobre os abetos
sei de tantas coisas que não vejo
desse equilíbrio do mundo que em nós faz a sede
e nunca ninguém apaga este lume
este sabor a damasco sobre a cintura
este espanto que nos amarra à vertigem
à calma de atravessar todo o tempo em nós
à lenta claridade onde amamos este secreto desígnio
maria andersen
Lindo poema, Maria. Adorei este sabor a poesia. Parabéns.
ResponderEliminarNota: parece que somos conterrâneas. Beijos
«assim ardemos» com os olhos cheios de terra e de mar, de ruelas e horas melancólicas, sombras e amores.
ResponderEliminargostei muito do poema.
beijo,
Mª Manuel