O dia passa com a sua ilustre nobreza de não agir como se fosse um afastamento dele mesmo..passam na rua outros passos só e juntos, não falam ou se falam não escuto e no entanto as vozes são-me todas tão claras. Por vezes é sempre a mesma sucessão de palavras que escrevo, que soletro fotograficamente como quem já lá pôs tudo . São fogos fátuos as frases alegres ou tristes que a tinta se dizem. Fico assim sobre as paginas breves do tempo, como um breve ar em movimento. Por vezes tudo me “sangra e dói”. Por vezes sou como um movimento esquecido, um som do passado, um grito humano que canta, que chora. Mas tudo é tão escasso . São tantos os lados em mim, tantas as vozes exteriores que me são interiores, tantos os olhos que de mim olham. Mas tudo isto é uma estreita filosofia onde a alma não entra. Uma paisagem repleta de chuva com coisas raras entre os brilhos involuntários à roda dos olhos. Por mais que tente o avesso disto tudo me entra pela alma dentro, como se ela fosse uma praça de encontros previamente marcados. Pobre sensibilidade humana em que me fundo, em que sonho e me extermino . Carícias do teu olhar que em mim repousa talvez esta seja a arte divina de criar. De fazer de cada sensação a cama de onde retiro palavras. A metafísica é tão cheia de sensações que se prolongam para dentro, como se o dentro exigisse esse domínio de ser qualquer coisa inteira a que o pensamento dá forma .
maria andersen
somos tantos e tanto que ás vezes parecemos transbordar. mesmo o tangível se nos entra sensível.
ResponderEliminarmas é essa sensibilidade tão humana.
beijo, Maria, e votos de um Bom Ano.