domingo, 1 de julho de 2012




são estas horas exactas 

estou no vértice do limiar só para poder ver)(te
as montanhas olham-me mudas
como os índios habitam os dias até ao fundo
atravessando uma escada sagrada e geométrica
enquanto as horas sobem à encarnação da luz
tão súbitas no sol que há em ti
assim  perpassam o templo como uma esfinge

a mãe sempre me ignorou de cores
pariu um desenho que lhe bateu à porta
na conjugação dos elementos
formas quebradas de um só golpe
que nos fazem cantar os verbos mais finitos
" a gramática infame do medo"
a espuma e o riso dos jogos de amor
"os filhos da madrugada"
tudo se deita não para dormir  nem para morrer
mas para se fazer poesia noutro ser
eu deito-me não para desistir mas para levantar-me 
num canto erecto com a ternura possessa de abismos
e a entrega absoluta henry miller
na loucura acesa em que me crio
nesta caverna de lençóis habitados de pássaros
com lições desaprendidas - como unicórnios 
a beber água nos canos da pistola

? que sonhos nos mudam de lugar
há murmurios que me falam onde te procuro
eu amo-te
no obliquo pássaro do ombro
alcatrão talvez em que rasgamos coisas antigas
braceletes caídas no choro do rio
a roubar o fogo às manhãs em que regressamos
com olhos marinheiros

o poema pode ser isto
um íntimo vento que nos passa por dentro a lançar pedras

assim me incompleto de ser o que não sou 

aqui

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