sou esta foz dos séculos
pastoreio-me nas horas
e crio haste junto aos pés – como raízes
a terra pesa no corpo como um sudário
o céu está ao contrário – os gritos soam para dentro
os ouvidos são rosas fechadas sobre si
& as horas teias labirínticas onde se colhem paisagens
estou sobre cada instante
a olhar em arco a menina dos olhos que me cresce no poema
as mãos são feitas destes gestos onde já alguém noutros gestos se perdeu
trazemos da viagem cantos desesperados que nos gravitam o peito
a boca a tremeluzir de estrelas na solidão de todas as mortes
o fogo é esse cimo da vida onde nos erguemos com aroma a pinheiros mansos
na ânsia de fazer ninhos entre as letras à boca do vento
foge-me a alma em cada espanto
em cada língua cheia de cantos
em cada silêncio teu em que me verto em que sou pássaro trepando as velhas heras
a vida – sempre um ocupado refúgio de nós mesmos
maria andersen
não há como não pensar em melopéia/fanopéia/logopéia em se tratando de Maria Andersen, está tudo aí: melodia sobrepondo-se a qualquer tempo, imagens naturais sempre se renovando e, é impossível não concordar com a poeta.
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