
Estou sentada diante do dia a norte do teu sangue
a olhar o escantilhão do tempo mapa insondável
rigorosa forma sobre a pele onde o amor se pronuncia
onde se entranha o cheiro das maças & toda a infância
& penso na inutilidade de pensar lugar onde te anuncias
a olhar a rua que começa em ti a ouvir o requiem de Mozart
lugar onde me invento & onde estou?,
a boca é sempre o primeiro instrumento do espanto
o olhar o alvoroço inteiro o fruto inviolado
& o teu silêncio é a palavra que não escrevo
subsolo em que me debruço os teus olhos iminentes
ah pudesse eu não ter limites
e ser como madrugada sabor intenso
a transformar-me aí na forma justa do corpo
deserto tão longínquo a saudade & a tua voz
onde perigosamente me deito como se fosse o regresso
apelo do tempo interminável na vigília das palavras
oh muro da desordem o pensamento
que nos pastoreia no fundo exausto da espera
erosão do corpo a que a lei nos ata
vírus lento da humanidade & destes versos por semear
amo por isso a primavera onde tudo se refaz
agora estás & não estás nos meus dias
& de noite mudas tudo de lugar
ai espada desta hora como uma sombra
na arquitectura perfeita & sensível dos sentidos
para onde a alma emigra dor de Édipo e minha dor
antiquíssima flauta o desassossego cúmplice do verbo
& nós
princípio dos meus dias onde ainda somos clandestinosPintura e Poema de Maria Andersen
BRAVO!
ResponderEliminarLindíssimo! Vejo, leio e sinto a sua Arte. Feliz por a ter descoberto no Face e de ter chegado aqui de onde parece partir todos os dias à descoberta. A este cais onde curiosamente regressará sempre para nos mostrar o que encontrou. Que viva Maria!
ResponderEliminarObrigada a Ambos..
ResponderEliminaré bravíssimo de tão maravilhoso, quando a arte une assim tantos pensamentos e alma...que se fazem uma só força, pelo mesmo sentido…a alma e a humanidade , pela arte
o mais forte em nós é sempre esta voz mineral que vem dos remotos séculos…